Pensar em uma militar do sexo feminino era, talvez, umas das situações mais difíceis de se imaginar em um passado não tão distante. E o ingresso das primeiras mulheres em fileiras militares não foi suficiente para quebrar paradigmas e derrubar preconceitos. Esses foram sendo quebrados com o passar dos anos e com as lutas travadas. E então as mulheres foram mostrando que são competentes para exercer qualquer cargo ou função, inclusive ser militar.
No Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas (CBMAL) as primeiras mulheres, soldados combatentes, entraram em 1994, porém foi apenas em 2002 que as primeiras oficiais ingressaram na corporação. Eram três: cadetes Camila, Erica e Cristiane, hoje, majores. E depois de 14 anos da data de ingresso como primeira oficial feminina do CBMAL, a major Camila assume o comando de um grupamento operacional na capital, a primeira oficial a assumir esta função na corporação.
Sua história
Camila Paiva nem pensava em ser bombeira, mesmo seu pai sendo coronel da instituição. Ela queria ser médica. “Fiz o primeiro vestibular para medicina e não passei e no ano seguinte (2001) abriu o edital para o curso de formação de oficiais (CFO) onde foi o primeiro concurso que uma mulher poderia concorrer ao oficialato do Corpo de Bombeiros. Então meu pai me incentivou e eu fiz”, contou a oficial.
A major não fez apenas o concurso, mas também foi a primeira colocada no mesmo. E então partiu para a Academia da Polícia Militar de Paudalho, em Pernambuco. Lá amadureceu tudo que não tinha amadurecido em toda sua vida já no primeiro ano de curso. “Me vi longe da família, dos amigos, da minha rotina, aprendi a me virar e a correr atrás do que eu almejava e foi um período incrível, cresci como pessoa e a partir dali não me vi fazendo outra coisa na minha vida. Percebi que tinha nascido para ser bombeira militar”.
Em 2004 a major concluiu o curso como a primeira colocada e por esse motivo foi logo promovida ao posto de 2º tenente sendo a primeira oficial combatente do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas. E então sua vida dentro do CBMAL foi repleta de profissionalismo, dedicação e amor à profissão. Concluiu cursos com mérito e honra, se tornava dia após dia exemplo para seus pares, superiores e subordinados pelo seu jeito espontâneo, alegre, dedicado e único de tratar as situações e se relacionar com a tropa.
A solenidade de passagem de comando
Para marcar essa data especial em que a primeira mulher bombeira militar assume um grupamento operacional no CBMAL foi realizada a solenidade de passagem de comando no Grupamento de Incêndio nesta sexta, 10, com presença da tropa do grupamento, dos oficiais da corporação, de autoridades civis e militares, amigos e familiares da major que fizeram questão de estar presentes nesta nova fase que se inicia em sua vida.
“A major Camila atrela toda feminilidade e delicadeza de uma mulher ao militarismo e faz isso com muita leveza. É guerreira, forte e vai fazer do GI sua nova casa, onde ela constrói com amor e cuida com carinho”, falou a capitã Viviane Suzuki, amiga de farda e pessoal da major.
A transmissão de cargo foi realizada pelo tenente coronel BM Ricardo Cruz que permaneceu na função por quatro meses em sua segunda passagem pela unidade e deixou o comando do GI para assumir a Assessoria de Relações Públicas e Comunicação Social do CBMAL. O tenente coronel se despediu da sua antiga casa e da tropa, enalteceu o que foi realizado, agradeceu por todo apoio recebido durante seu comando e desejou boa sorte para a nova comandante: “em nove meses se faz uma vida humana, mas eu tenho certeza, major Camila, que nesses quatro meses criamos um feto que dará a luz em suas mãos. Desejo toda felicidade e sucesso, a tropa estará trabalhando com você”, declarou.
Para o comandante geral da corporação, coronel BM Adriano Amaral da Silva, fica a certeza de que o grupamento de incêndio estará em excelentes mãos: “percebemos que já era tempo da Camila assumir o comando de um grupamento por toda sua competência, talento e capacidade. O GI tem uma qualidade imensa e tenho certeza que tanto ela quanto a tropa irão somar uns aos outros fazendo um excelente trabalho”.
Na solenidade, a major passou em revista a tropa e em seguida a tropa desfilou em continência a nova comandante da unidade. Camila não conseguiu conter a emoção e resumiu esse momento em uma única palavra: gratidão. “Essa missão foi confiada a mim e eu só tenho a agradecer com a certeza que ela será bem executada. Encontraremos dificuldades porque isso é normal, faz parte de qualquer gestão, mas eu espero traduzir o meu trabalho na valorização do homem, investir no ser humano, lutarei pela minha tropa acompanhando suas necessidades e superaremos os obstáculos que estão por vir”, disse.
Camila enfatizou que está preparada para as resistências e para os preconceitos que ainda existem pelo fato dela ser mulher: “muita gente tem resistência ao comando feminino e a gente vem tentando quebrar isso ao longo dos anos, mas eu espero que possamos fazer um bom trabalho e deixar a marca feminina positiva aqui no Grupamento de Incêndio”, concluiu.