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SIM, SENHORA!: CBMAL PROMOVE AS PRIMEIRAS CORONéIS DA CORPORAçãO

  • 01/08/23
  • 11:08

 

 

As duas oficiais promovidas são a coronel Camila Paiva, do quadro de oficiais de comando (QOC), e Ana Clara, do quadro de saúde (QOS)

por Yasmin Evangelista, estagiária ASCOM CBMAL

 

A manhã da última segunda-feira (31) ficou marcada como um dos maiores marcos dos 76 anos de história do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas. Depois de quase oito décadas, o CBMAL finalmente possui mulheres na patente mais alta de uma instituição militar em Alagoas.  

 

As duas oficiais promovidas são a coronelCamila Paiva, do quadro de oficiais de comando (QOC), e Ana Clara, do quadro de saúde (QOS); que ao longo de suas carreiras militares acumulam em sua bagagem notáveis resgates, salvamentos, especializações e servir à Corporação e a toda sociedade alagoana.

 

 

A potente coronel Camila e as 3 estrelas gemadas

 

 

 

 

O Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas já tinha 55 anos de história quando recebeu em suas fileiras a primeira mulher oficial de comando, a Camila Paiva, que se destaca na luta das mulheres da Segurança Pública por reconhecimento, direitos e uma voz ativa contra o assédio nos quartéis.

 

 

 

Agora coronel, Camila Paiva, diz que o que mais se orgulha em sua carreira é nunca ter desistido. “Para mim é um momento muito emocionante ter essa oportunidade de representar todas as mulheres. Durante minha carreira militar tive o desafio de ser pioneira em diversos âmbitos, e mesmo diante de tantos desafios e obstáculos sempre demonstrei amor e compromisso pela profissão”.

 

“Neste momento histórico, estou levando todas as mulheres comigo para demonstrar que podemos ocupar todos os espaços, e lutarei ainda mais pela segurança das mulheres alagoanas e de toda à sociedade”, finalizou a oficial.

 

“Cuidar de quem cuida”: a coronel enfermeira Ana Clara

 

 

 

 

Em 2006 o CBMAL recebia a Ana Clara, enfermeira recém-formada, buscando um primeiro emprego e a realização profissional; sonhava em, como enfermeira do Corpo de Bombeiros, sair nas viaturas e salvar vidas, atuando na área pré-hospitalar.

 

“Lembro-me do dia que me apresentei na Corporação e fui ansiosa procurar as ambulâncias de suporte avançado (USA), mas não havia! Assim como não havia um hospital e eu perguntei ao sargento que me recebeu onde eu iria trabalhar. Ele me apresentou a Diretoria de Saúde, uma salinha pequena e disse que era ali mesmo o meu local de trabalho. Meus pais me aguardavam no carro felizes e cheios de perguntas. Voltei triste e tentei disfarçar”, relatou. 

 

Mas ser militar, não livrou a agora coronel Ana Clara, de sofrer perseguição. “Fiz o Estágio de Adaptação de Oficiais, concluí com êxito sendo a 02 da turma e 01 da enfermagem. Não sabia ainda que diferença isso faria em minha carreira. Apenas estudei e dei o meu melhor, sem grandes pretensões, mas minha classificação foi vista com estranheza por alguns colegas de turma. Como uma enfermeira estava na frente de tantos médicos? Como uma enfermeira seria mais antiga que médicos? Isso me acompanhou durante toda minha trajetória e foi motivo de embates internos em que precisei lembrar a todos que somos militares e a antiguidade deve ser respeitada em detrimento a qualquer cultura”.

 

“Após o Curso, começamos a atuar efetivamente na Diretoria de Saúde. Uma pequena casa foi alugada e nós, eu e minhas colegas enfermeiras, transformamos em uma clínica que pudesse acolher os bombeiros que procuravam atendimento. Realizamos alguns procedimentos simples de enfermagem, fazíamos campanhas de vacinação, visitávamos bombeiros nos hospitais ou acamados em suas residências, mas ainda faltava algo”, continuou a oficial.

 

Em que momento você sentiu que encontrou seu lugar no CBMAL? “Já que não poderia atuar no pré-hospitalar, mudei meus planos e procurei uma especialização que me fizesse entender meu papel. Escolhi a pós em Enfermagem do Trabalho e estudando sobre a Saúde do trabalhador descobri que também era apaixonada pela prevenção e, finalmente pude compreender o que vim fazer aqui: cuidar de quem cuida, não apenas quando estão doentes, mas trabalhar para que eles não adoeçam. O “salvar vidas” que eu tanto sonhei, seria realizado dentro da tropa”.

 

Mas eles precisam mesmo de prevenção? Como enfermeira da Corporação, você sabia o que faziam os bombeiros que poderia colocar sua integridade física e mental em risco? “Somente quando li o depoimento de um bombeiro sobre uma ocorrência sobre uma vítima que ele não conseguiu salvar, eu senti a dor dele e me culpei por demorar tanto tempo a ver o que era tão claro: eles precisam sim de apoio, de prevenção, de cuidado. Assim, junto com amigos combatentes e mais uma enfermeira, criamos a Comissão de Qualidade de Vida, Saúde e Segurança do Trabalho na Corporação em 2016”.

 

“Em 2019 fui convidada a ir para Secretaria de Segurança Pública, para atuar no Núcleo de Qualidade de Vida, setor que era referência para nossa Comissão e para a de outras Instituições. Fui para a Secretaria, mas continuei acumulando a função de presidente da Comissão, que por vários motivos acabou por ficar adormecida, mas que precisaria ser reativada porque, no mesmo ano, foram disponibilizados Recursos Federais para a Valorização Profissional e era necessário ter na Corporação um setor que captasse esse recurso”, contou.

 

Agora como coronel, quais são os próximos passos? “Ser a primeira mulher e enfermeira Coronel do CBMAL só aumenta mais minha responsabilidade com cada militar, que chora em silêncio pela vida perdida e se expõe aos mais diversos riscos para salvar um desconhecido. Enfatizo que sou enfermeira. E no meio de tantos homens e médicos, fui promovida a Coronel. E entre tantas vozes que falam em assistência aos doentes, eu grito que é necessário fazer prevenção”. 

 

 

 

 

“Dizem que eu cheguei no topo da carreira por ser Coronel. Simbolicamente sim, mas para mim, chegarei no topo quando conseguir tornar nossa corporação mais segura. Quando conseguir que cada bombeiro entenda que precisa da prevenção. As lutas que travei para chegar aqui estão carinhosamente guardadas em minha memória e um dia irão ganhar o mundo, e acreditem foram muitas batalhas. Algumas pelo simples fato de ser enfermeira, outras tantas por ser mulher. Por enquanto fica oficialmente aberto o caminho para que outras trilhem. Fica determinado que é possível ser mulher Coronel, ser enfermeira Coronel. E se surgir o posto de General, não duvidem, chegaremos lá”, finalizou a coronel.

 

As militares ainda têm muito a conquistar dentro das corporações militares, mesmo que levem mais 76 anos, muitas outras ainda chegarão ao topo. Afinal, a força sempre encontra as mulheres.