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O INCêNDIO VISTO DE DENTRO: VISãO GERAL DO SINISTRO QUE ATINGIU QUATRO LOJAS NO CENTRO DE MACEIó

  • 19/11/15
  • 08:11

 

O serviço mais antigo realizado pelo Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas é o serviço de combate a incêndio. Do combate com baldes de água, a corporação evoluiu e hoje possui modernas viaturas, entre elas duas auto escadas que são fundamentais para o combate no caso de chamas muito altas e incêndios de grandes proporções.

Na última sexta-feira, 13 de novembro, um incêndio assustou comerciantes e transeuntes do Centro de Maceió que viram, em questão de segundos, as chamas crescerem e deixarem o céu daquela região com uma mistura de laranja e cinza, entre fogo e fumaça.

A ocorrência

 

 

O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 18h30min com a informação que a Loja Imperatriz, localizada na Rua Moreira Lima, no Centro da cidade, estava pegando fogo. O coordenador de operações do dia, capitão BM Jorge Luiz, encaminhou para o local, de imediato, duas viaturas de combate a incêndio, uma de salvamento e uma de resgate. Quando os bombeiros chegaram para atuar obtiveram a informação que havia pessoas no local e a prioridade passou a ser o resgate dessas possíveis vítimas. A loja já estava praticamente destruída e existia um acesso entre a Imperatriz e a Gaivota, então o coordenador de operações conseguiu entrar por uma porta dos fundos para verificar se existiam vítimas dentro do sinistro e reuniu os funcionários que estavam fora para saber se todos que ainda encontravam-se na loja estavam bem. Então a possibilidade de vítimas dentro do local foi rapidamente descartada.

O combate foi iniciado de imediato utilizando duas linhas de frente, pelo chão. Assim que as auto escadas chegaram o combate aéreo pôde ser iniciado e nesse momento as chamas já atingiam cerca de sete metros de altura. O fogo se expandiu rapidamente para a Loja Gaivota e nesse momento, uma das viaturas de incêndio ficou no combate em frente a ela e outra na Imperatriz.

Graças a um hidrante localizado nas imediações, uma das viaturas de incêndio pôde ser conectada a ele. Em pouco mais de três horas em que os bombeiros estiveram combatendo incessantemente o fogo, o incêndio se alastrou para outras duas lojas de eletrodomésticos, a Laser Eletro e a Eletroshopping. Nesse momento, já estavam empregados 14 viaturas e mais de 45 militares em quatro pontos de atuação no combate aéreo.

A estratégia era fazer o resfriamento do local para que o fogo não se propagasse para outras lojas e o sinistro tomar proporções ainda maiores. Segundo o capitão Jorge, era difícil se aproximar para combater diretamente no foco. Alguns comerciantes permitiram que as guarnições acessassem seus telhados para facilitar o combate e alguns deles também possuíam rede de hidrantes, o que facilitou o abastecimento de água.

Com as quatro frentes de combate, eles conseguiram controlar o incêndio por volta das 2h, fazendo com que o fogo não se expandisse para outras lojas. Assim que o incêndio da Laser foi debelado, as guarnições acessaram um telhado de uma loja próxima e conseguiram atingir o centro do incêndio. Então, por volta das 5h, eles conseguiram extinguir todos os focos do incêndio e começaram o trabalho de rescaldo para que não houvesse reignição do fogo.

Além das viaturas e dos militares escalados, muitos voluntários também estiveram no local, ajudando da forma que podiam. A prefeitura também disponibilizou carros pipas que ajudaram no abastecimento de água.

Segundo o coordenador de operações, foram cerca de 11 horas de combate ininterruptos, onde as equipes revezavam para que não fosse necessário parar a atuação por nenhum motivo. Foram utilizados mais de 3 milhões de litros de água até que o incêndio fosse debelado. “Graças à força das guarnições envolvidas e à ajuda de militares voluntários que levaram alimentação para os combatentes não tivemos baixas dos militares, e o incêndio não se propagou para outras lojas causando uma destruição ainda maior”, disse.

 

 

A perícia

O Corpo de Bombeiros possui em seu quadro nove peritos de incêndio especializados e com todos os requisitos técnicos para apontar as causas de um incêndio, seja ele de grande, médio ou pequeno porte.

O setor de perícia da corporação pode ser provocado pelo estabelecimento ou pessoa interessada, bem como ser solicitado pelo comando da corporação, pelo diretor de atividades técnica ou se for de interesse do governo ou por solicitação da justiça. O comando da corporação pode nomear apenas um perito para realizar o trabalho, como também pode instituir uma comissão para esse fim.

Segundo o major Kelton Farias, chefe do setor de perícia do CBMAL, houve cinco incêndios de grande vulto nesse ano de 2015, no Centro de Maceió, um que atingiu a Loja Magazine Luiza, outro na Secretaria da Fazenda, outro em um cartório, um na Farmácia do Trabalhador e o último que atingiu as quatro lojas: Imperatriz, Gaivota, Laser Eletro e Eletroshopping. Dos quatro incêndios anteriores, dois deles foram apontados como fenômeno termoelétrico, já nos outros dois não foi possível chegar a uma conclusão por descaracterização do local, não sendo possível encontrar a zona de origem, o objeto causador e nem causa.

A perícia do último incêndio ocorrido no dia 13 de novembro já iniciou e conta com cinco peritos realizando os trabalhos nas quatro lojas incendiadas. Os peritos estão ouvindo os funcionários e donos dos estabelecimentos e o prazo para entrega do laudo é de 30 dias corridos, prorrogáveis por mais 15.

Para o subcomandante da corporação, coronel BM Paulo Marques, o crescimento do Centro é desordenado, e cabe aos lojistas se regularizarem perante os órgãos competentes: “são constantemente construídos pavimentos descoordenados, são feitos armazenamentos de estoque acima da quantidade ideal, além de não possuírem saída de emergência ou um acesso pelos fundos das lojas. A ventilação, muitas vezes é inexistente e quando tem é de uma loja para outra, o que facilitou, por exemplo, a propagação do incêndio de uma loja para outra na última sexta”.

Para o subcomandante geral da corporação, assim que foi feito o reconhecimento do local da ocorrência, a operação saiu a contento. “Foi nesse momento que conseguimos controlar a ocorrência, impedindo que o incêndio se propagasse para outras lojas e o sinistro se tornasse ainda maior. A principal dificuldade foi colocar as viaturas próximas ao local e entrar nas ruas que faziam parte do quadrante do incêndio, pois o acesso é um pouco complicado para viaturas de grande porte como as nossas, além do piso não suportar o peso de algumas viaturas”.

A fiscalização

As lojas incendiadas não possuíam auto de vistoria do Corpo de Bombeiros e nem preventivos. Todas foram notificadas desde 2012, mas não se regularizaram perante a corporação. O superintendente de atividades técnicas da corporação, tenente coronel Henrique Medeiros, citou que das quatro lojas, a Eletroshopping e a Gaivota nunca possuíram projeto. “A Gaivota foi notificada em 2012, 2013 e 2014 e nunca se regularizou e a Eletroshopping foi notificada em 2012. A loja Imperatriz teve certificado aprovado em 2012, que venceu em 2013, mas que os responsáveis não pediram renovação. A Laser Eletro teve projeto aprovado, mas não chegou a executá-lo”, explicou.

O tenente coronel explica que quem já teve o certificado pelo menos uma vez, assim que o mesmo perde a validade, recebe por carta e em mãos a notificação para renovação.

Além disso, muitos estabelecimentos só precisam possuir o auto de vistoria de processo simplificado. O diretor da SAT diz que 60% das lojas do Centro se encontram nessa situação por não possuírem 750m² e serem enquadradas pela Instrução Técnica (IT) 40 do CBMAL como de baixo risco. “Mas mesmo nesses casos, o estabelecimento precisa se regularizar perante o Corpo de Bombeiros e a Junta Comercial. Hoje em dia os estabelecimentos novos e antigos podem se regularizar pelo portal Facilita Alagoas e tirar quaisquer dúvidas na Superintendência de Atividades Técnicas do Corpo de Bombeiros”, explicou o capitão Ailton Barbosa, que trabalha com análise de projetos de segurança contra incêndio e pânico.

 

Fotos: Jonathan Lins - repórter fotográfico